Estudantes e comunidade lotam auditório do IFC para assistir palestra sobre o Contestado

Escrito por juliana.motta. 1 de junho de 2017, às 19:03

Disputa territorial, desmatamento, expansão capitalista, guerra, morte e esquecimento. Temas que emolduram uma das revoltas populares mais sangrentas do Brasil: a guerra do Contestado. As nuances culturais, políticas e geográficas que marcaram essa guerra foram abordadas pelo professor e pesquisador Nilson César Fraga, que palestrou para um auditório lotado no Instituto Federal Catarinense (IFC) Campus Videira, na noite da última segunda-feira, 29 de maio.

Nilson esteve no IFC a convite do Projeto Café com Segurança, do curso técnico em Segurança do Trabalho. O objetivo do projeto é trazer para a população de Videira e região a discussão de temas relevantes para os trabalhadores e a sociedade em geral. Em outras edições já foram trazidos temas como oratória, saúde e discussões sobre gênero no mundo do trabalho.

De acordo com a professora Márcia Schuler, uma das organizadoras da palestra, o evento foi muito proveitoso. “As avaliações que obtivemos do evento foram ótimas. Esperamos ter conseguido despertar em discentes e colegas, além do público externo que compareceu, a vontade de conhecer melhor nossa história. Enfim, o Núcleo de Estudos do Contestado (NEC) e o projeto Café com Segurança estão satisfeitos com o evento e o impacto dele”, destaca.

A palestra abordou aspectos culturais da herança cabocla deixada por aqueles que aqui lutaram e morreram. Nilson Fraga falou sobre como os imigrantes europeus – vindos para cá em situação de extrema pobreza – se instalaram no Sul e aprenderam com o povo caboclo costumes gastronômicos tradicionais mantidos até hoje, como o chimarrão, o pinhão o virado de feijão e a quirera.

A guerra do Contestado foi apresentada como um crime de guerra contra a humanidade praticada pelo Estado brasileiro e que matou milhares de pessoas, incluindo muitas mulheres e crianças. “Os jagunços contratados por coroneis da região dizimaram a população local, matavam as pessoas e jogavam os corpos para os porcos comerem”, detalha narrando a crueldade com que os crimes foram executados.

Intitulada “Contestado, a arqueogeografia na terra da guerra esquecida: fragmentos de um crime contra a humanidade” a palestra foi proferida pelo professor que é geógrafo, exatamente na data em que comemora-se o dia do geógrafo (29 de maio). “A arqueogeografia trata da dinâmica do espaço na longa duração e contribui para o estudo de outras dimensões dos objetos geohistóricos, além daquelas que até o presente fizeram as disciplinas da geografia histórica, da geohistória e da arqueologia das paisagens e do ambiente”, explica Nilson, destacando a novidade da arqueogeografia como a proposição de uma disciplina lançada pela primeira vez nesta palestra.

O evento contou com a interpretação em Língua Brasileira de Sinais (Libras), feita pelo técnico Ramon Cunha e pela professora Luiza Kaim. O evento serviu de aula prática para a turma de Libras do IFC Videira, que aproveitou a oportunidade para conhecer mais sobre o tema e treinar a interpretação em Libras.

Na ocasião também ocorreu o lançamento de três livros de autoria do palestrante, professor Nilson Cesar Fraga. Confira o título das obras:

*Contestado, o território silenciado. 2ª. ed. Florianópolis, SC: Insular, 2017, 302p.

* Contestado, cidades, reflexos e coisificações geográficas. 1. Ed. Florianópolis, SC: Editora Insular, 2016, 559p.

* Vale da Morte: O Contestado visto e sentido – “entre a cruz de Santa Catarina e a espada do Paraná”. 2ª. ed. Blumenau, SC: Editora Hemisfério Sul, 2015, 155p

Vítimas de acidentes de trabalho
Como o evento foi organizado pelo Curso Técnico em Segurança do Trabalho foi prestado um minuto de silêncio pelas vítimas fatais de acidentes do trabalho. Foram acendidas, simbolicamente, uma vela para cada morte ocorrida no ano de 2015. A Organização Internacional do Trabalho, no ano de 2003, instituiu a data de 28 de abril, como sendo o Dia da Segurança e da Saúde no Trabalho, em memória às vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. No Brasil, em 2005, a mesma data foi instituída como o Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho. Segundo estatísticas, ocorrem em nosso país mais de 700 mil acidentes de trabalho por ano e, a cada dia, aproximadamente 55 empregados deixam definitivamente o mundo do trabalho por morte ou incapacidade permanente. São quatro mil mortes por ano em decorrência de acidentes de trabalho no país, colocando o Brasil em 4º lugar no ranking mundial.

Com promoção no Núcleo de Estudos do Contestado (NEC) a atividade contou com o apoio do Projeto “Café com Segurança” e do Curso Superior em Pedagogia do IFC.