Bombeiro relata experiência na Missão Brumadinho
Escrito por juliana.motta. 19 de março de 2019, às 19:11O projeto Café com Segurança iniciou as palestras de 2019 com o tema “Missão Brumadinho” em que o Soldado Giandro Rissi compartilhou suas experiências como Bombeiro Militar no resgate às vítimas da Vale – Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais. O evento foi realizado na quinta-feira (14) e contou com a ampla participação de alunos, servidores e comunidade externa.
Giandro Rissi integrou a primeira equipe de Santa Catarina nomeada para auxiliar nos trabalhos de busca em Brumadinho. Eles estiveram em Minas Gerais entre os dias 29 de janeiro e 07 de fevereiro. Giandro atuou em parceria com o Cabo Ronaldo Fumagalli, com o Soldado Thiago Spader e com o cão Hunter.
“Tristeza” foi o sentimento predominante que o Bombeiro sentiu ao chegar para o primeiro dia de trabalho em Brumadinho. “Em momentos de descanso ficávamos sentados perplexos olhando o tamanho da destruição causada pelo rompimento da barragem”.
A equipe tinha uma rotina exaustiva, o deslocamento na lama era complexo e perigoso, tinham que suportar uma carga horária de 12h de trabalho sob forte odor de lama com rejeito, dos peixes e animais mortos e tudo isso vestindo roupas quentes de proteção com uma temperatura que chegou a 45º sem possibilidade de abrigo em sombra.
Giandro Rissi falou da importância do reconhecimento pelo trabalho como motivador nos momentos mais difíceis. “Pequenos gestos, pequenos detalhes mexiam muito com a equipe e isso era nosso combustível para as buscas”. Ele detalha o incentivo recebido por moradores da região que mesmo estando em situação de luto pelas perdas atuaram diariariamente no auxílio aos Bombeiros.
“Todos os dias deixávamos a roupa cheia de lama aos cuidados dos voluntários e no dia seguinte a farda estava ensacada, limpa e cheirosa, além disso, junto com as roupas recebíamos barrinhas de cereais, chocolates e bilhetes de motivação para nós”, relata comentando que a Igreja Batista foi uma das entidades mais solidárias ao adquirir nove máquinas de lavar roupas e disponibilizar voluntários para apoiar o trabalho dos Bombeiros.
De acordo com Giandro a missão em Brumadinho foi até o momento a maior operação de buscas realizada pelo Corpo de Bombeiros no Brasil. Segundo dados da Defesa Civil de Minas Gerais, 206 mortes estão confirmadas e outras 102 pessoas continuam desaparecidas (dados de 17/03). A atuação dos Bombeiros consiste em localizar corpos, segmentos (partes dos corpos) e fazer o descarte de área para poder afirmar que determinada área foi vistoriada e não há vítimas soterradas naquele local.
Agentes caninos
Imprescindíveis para o sucesso das buscas são os cães que trabalham na missão. Eles têm olfato super desenvolvido e uma personalidade dócil que os capacitam para trabalhos de resgate a partir do farejamento. Um dos cães que integrou a equipe de SC foi o Hunter,
um labrador de 4 anos de idade especializado em localizar vítimas mortas.
Os cães pertencem ao Estado, mas convivem diretamente com seu tutor (bombeiro responsável) desde pequenos e formam com ele o chamado “binômio”, ou seja, uma dupla de cão e bombeiro. O Cabo Ronaldo Fumagalli é o tutor do Hunter, mas como o trabalho só ocorre em equipe eles contaram com apoio de Giandro Rissi, que também tem experiência em cinotecnia – conjunto técnicas para criação e treino de cães. Giandro explica que o cão Hunter tem certificação do International Rescue Dogs Organization (IRO) sendo esta uma exigência do estado de Santa Catarina para que os cães possam trabalhar.
Depois de atuar em Brumadinho Hunter é considerado um dos melhores cães de buscas do Brasil em função da precisão e da quantidade de indicações que ele fez. “O cão é extremamente sensitivo e inteligente e para mim foi uma honra ter servido de vítima figurante deste cachorro durante treino de buscas. Não conseguiríamos localizar nem metade das vítimas sem o cão”, ressalta o Bombeiro Giandro Rissi.
Para viabilizar a busca das vítimas soterradas a metros de profundidade os bombeiros usam um bastão de cobre para perfurar o solo formando um “cone de odor”. Com isso, o cão consegue farejar o cheiro para o qual foi treinado e late para sinalizar o que encontrou. O cão tem capacidade de farejar a metros de distância e distinguir uma gama imensa de odores.
Os cuidados com os cães que trabalham na missão também foram constantes. Próximo ao local das buscas foi montado um posto veterinário para onde os cães eram levados todos os dias após o trabalho com intuito de verificar se não havia ferimentos e avaliar o estado de saúde geral do cão. Neste local também eram providenciados banho e toda assistência necessária para que os danos pelo trabalho fossem minimizados, como massagens de recuperação muscular, suplementação de vitaminas, aplicação de vacinas e realização de exames.
Conheça o Café com Segurança
O Projeto Café com Segurança é desenvolvido pelo curso técnico em Segurança do Trabalho em parceria com professores de variadas áreas. Uma vez por mês o Projeto traz uma palestra diferente para a comunidade de Videira e região, sempre com temas relevantes e atuais. O objetivo é trabalhar a interdisciplinaridade por meio da proposição de temáticas livres, ampliando a visão e a reflexão a cerca de temas transversais de interesse na área de Saúde e Segurança do Trabalho (SST).
Nesta edição o Projeto incentivou a doação de materiais escolares que foram entregues à Associação dos amigos dos Autistas (AMA). Na ocasisão a representante da AMA, Carliza Fiabane, falou da importância do trabalho da Associação, repassou a agenda e agradeceu pelo apoio do IFC.
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Texto e fotos: Cecom/Videira – Jornalista Juliana B. Motta Peretti